Sobre Lobos, Lentilhas, Bois e Notas de Falecimento
p/ Danton, Robespierre e Graco Babeuf
Sim!
Eu sei muito bem de onde venho!
Insaciável como a chama no lenho,
eu me inflamo e me consumo.
Tudo que eu toco vira luz,
tudo que eu deixo carvão e fumo.
Chama eu sou, sem dúvida.
(F. Nietzsche- em Ecce Homo)
Sim!
É cedo demais
para dizer que é tarde
Sim!
Eu sei desta dor que arde,
mas também sei o que te espera,
se conseguires.
(Joel Moreno – em sua Ácidopsicoterapêutica
‘Loteria Poética’).
Do vício em não esperar: o desespero
a vontade além dos passos
os pratos destemperados
a insossa sopa evaporando
nas mãos de grãos que rastejam
sobre a líquida mãe à deriva
terra nada santa, sim! a da ceia:
não bebamos deste cálice sangrento
e sejamos os grãos que defeituosos caem
banidos, varridos, lançados ao longe
e esquecidos
da boca do tempo, das lentilhas: mortalhas
migalhas salivantes, perfeição passada
e uma só placa apontando o além:
O Sol despenca, o lobo busca o happy-hour
os bois amontoam-se rumo às lentilhas
marcados a ferro e tombados por dentro
já não ousam desgarrar-se
magros pro prato e fracos pra cria
figuram num grande não sobre a mesa
sempre onívoros foram amestrados
restando à alguns poucos a destreza
deste perigoso grito além da fúria
represália de humildes nichos que alijados cedo
puseram no mundo seus letrados lobos
cujos uivos são notas de falecimento!
End
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