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Mostrando postagens de junho 10, 2010

Saga

Para H. Kolody/ P. Leminski/ Nempuko Sato As flores do café como um mar reflete a lua (Nempuko Sato) Depois dos sessenta minha voz tranqüila mesma voz de outono (Mitio Suguimoto) O café na colcha tece no hai-kai retalhos do coração (Dani Estefani) Carpa quieta ao sol desliza n’água ao som do tempo (Dani Estefani) As cores do mundo absorvem todos os que se deixam confundir com a tela. O ambiente é mais forte que qualquer vontade. O transitar caótico é a busca por respostas. O desolado homem trafega sobre perguntas. O obcecado anseia por encontros. O compreensivo teme não rebelar. O sonhador recosta-se na janela de um ônibus e dispersa, num vacilo da noite, sente vontade de não estar só. Um ruído de trem prenuncia viagem e dentro de quem ama, uma noite perfeita pode durar uma vida inteira. No plano das ‘Afinidades Eletivas’ , toda uma vida é pouca para se degustar uma só noite completa. O primoroso enólogo se abstém ao perceber que ainda tem na boca a safra passada. Deit

Eu e Você em Hokaido I (ode telegráfica)

“As estrelas em seu percurso combatem pelo homem justo.” Provérbio Chinês. for Penélope para ouvir ao som de Kitaro I Garganta de Rubi Siberiano: o vôo. Sol rasteiro nascente no pescoço, o sono. A vida serpenteia. A rubra tarde em formato de gravata, canta e ilumina o olhar do filósofo alpino. A monotonia. No outono, folhagem vermelha desperta à tarde intensa. Imenso mar de nuvem sobre o cume. Musgos. Lume. Troncos, pedras: estalagens. Corvos onde repousam estrelas. A água não vem só do céu: desce do Fugi. Sebe seca de galhos mortos. Contraponto. Cinza claro. Lago sereno. Árvore japonesa que conservo em meu quintal ocidental. Não há um nome para a neve que chega. A vida hiberna. Há uma densidade maior no olhar. Estalactites de gelo imitam arte pós-moderna. Cimitarra de prata no céu. Dourado trono do crisântemo. Artemísia sem tempo para fecundar. Fim de tarde. No anverso horizonte rubro. O tigre se curvou ao Xógun. O grande senhor ao humilde pescador. Saciar a fome

Ciclope Enguiçado IV

p/ João Carlos Martins o ‘Maestro do Povo’. (...) do tronco que parece escutar nas folhas quando cresce o amigo rumor. (Severo Sarduy em ‘El Arbol’ de “La Recoleta”) (…) Agora ouça-repita com cuidado cada imagem e guarde, só pra você. (...) (Rodrigo Garcia Lopes em “No Cardoso, um diário. Oh! Universo! Não há entre nós achado algum que poste lacônicas dúvidas Nenhum grito que surja ao acaso ou uma só sentença que não transmute em devir. Através de meus olhos: te ilustras, te miro e nos vislumbramos admirados com o recíproco infinito de nossos horizontes. Um tudo que se repete mas jamais renasce sob o jugo das vencidas fórmulas. Olho que a cada ressurreição predomina e o predador se excita cada vez mais Até que o âmago já esvaziado de querer se liberta de qualquer resquício de vaidade saltando ao encontro de centenas de bilhões de centelhas apagadas. Os extinguidos vaga-lumes que fomos e, que seremos quando retornarmos ao tempo de Planck onde novamente o brilho de uterinas

Ciclope Enguiçado III (Sinfonia ao Silêncio)

“in summa serenitate” p/ Chat Baker , Leonardo Becker & Fausto Toto Barrabás Toque o pôr-do-sol com as mãos. Traga à tona o meu melhor por mim. Surgem assim em ondas feito cavalos disparados. A mão é única. Atenção ao suave grito. Ao mais leve aceno. É preciso o coração na boca. Nas pontas dos dedos. Numa Fender Stratocaster ou num Trompete: Enternecer é mágico. O mundo do silêncio explícito. Implicam a marcha fúnebre, as manchas solares. Um quarteto de cordas e o que mais? Polifonia? Sun circus forever? Andamento que valoriza a pausa. O coração tem música. Ritmo marcado por enfileiradas lápides. Empedernidas fúrias. Um velho e saudoso pai incitando a pauta, a harmonia. Somos pequenos infindáveis perdidos em nossos esquecimentos. Um relógio pêndulo que bate. Admiração que dura. E no cerne de tudo: as palavras. A pretensão de quem segue. De quem dança segundo os sábios códigos da vida. Sob música mundana. Agora sei de onde surge o teu nome: da atmosfera do vento. Do canto que

Ciclope Enguiçado II (ultra-som)

ao som do Hino à Duran na voz de Zé Ramalho p/ o irmão Antônio Garcia Todo envelhecimento tem hora. E os ponteiros são céleres desde o primeiro momento da vida. Está em ti o silencioso degredo. Não podes realizar o que demais perfeito queres. Por que não o sabes. Não te conheces. E não te reconhecendo, estranhas o mundo, este mesmo, onde te sentes presa, acabrunhada, indefesa, propensa ao fim. Lembra de Jó. Qualquer miséria é só símbolo para quem está vivo. E pro viver só há resposta no caminho. Existindo no aqui em dois focos e no além num ângulo só. Levanta-te ciclope! Abre teu terceiro olho! Ampara-te. Progride. Garboso. E não deixes de te encantar com o que acaba, diluí-se, e é só a parte visível do que não começa, não termina: pairando além. Escancara a intuição Se entrega à verdade despedaça o mito. E sem ele transpira admirado de horizontes.

Ciclope Enguiçado I (opus n° 25)

p/ Gabriel Garcia Marques, José Saramago & Stephen Fly I Senão d’ouro, de que são feitas as palavras que tremulam os lábios e te partem as mãos? Dos bolsos vazios inundam dúvidas. Nos versos mais duros a boca úmida. A cabeça pende. Idéias não secam e a mina com o seu rutilar de tolo se acalma. As mãos partidas vêm da lida. A boca trêmula da angústia. E as palavras... Ah! as palavras... Senão d’ouro são palavras; E seu valor: vale o quanto pesa cada ouvido; ou o quanto necessita cada coração silenciado por simulacros ou pelos fatos. Pois vez em quando é de ouro o silêncio, outras vezes é obstáculo. Então, no terceiro olho vicejam e se escondem as metáforas. E em cada verso com seu rosário de palavras há numa pausa que voa, uma imagem que evapora, e um fim pra tudo que ecoa. II Depois... Sim! Sim! Sim! O big-bang, Planck, um Sol um Galileu e ...um novo grito...

Findos Olhos Negros?/ Solo azul sem Khomeini

p/ G. J. Samaha (Brimo) & Tiago Jungler (Preto) Vindos de Teerã, Kabul, Bagdá e Kashemira caóticos ruídos estalam insones. Íngremes corações sinceros se abalam pelo ódio, quando o que garotos querem, não são armas mas tão somente, a lufada de cabelos perfumados e expostos rente à brisa sem nenhum temor... Negros e mortos mares. Sem tremor. Sem chador, chaderi ou burka. Leveza para o corpo, para o hímen. Algum sal na pele âmbar que desliza no deserto. Tendas que se espraiam e se armam. Tâmaras que umedecem a boca. 50° que não permitem que uma só lágrima flua. A vida em torno do mar Morto. Alguma brisa oriunda do mediterrâneo. Muitas ameaças. Decretada a morte de um Salmão morto no trânsito. Rush-die. Um complô. Tive um sonho e do Iguaçu vi ruindo a Foz. Vivo nascido das nascentes, vi surgirem próximos ao CODESUL: os minaretes. Sou descendente Tupi, mas vi mesquitas inchando com oferendas obrigatórias. Ingênuos brasiguaios assistindo cultos em árabe, estupefatos como já estivera

Apenas Um Pouco Sobre as Mãos

P/ Iko Vedovelli and your magic hands “... espantoso, que nossos olhos enxerguem por um deus cego, e sejam também os olhos do Sol...” Fecham-se as portas. Você passa. Eu lembro e mergulho em você. Protejo os olhos do Sol com as mãos. Da ponta do polegar ao mínimo. Uma bola de vidro partida. Vinte e dois centímetros: é um palmo. Distância capaz de determinar a severidade ou a graça de uma história, de protelar o sonho de um atleta, ou até mesmo aniquilá-lo. Percurso que pode fazer o focinho de um cavalo transformar o resto do conjunto num famoso garanhão, ou num indistinto pangaré. Sim. Um palmo pode. Pode separar um dia, uma noite; uma vida, uma morte: Um Palmo Pode. Pode separar um abraço, um beijo... No entanto, beijos separados por palmos acusam pausas e, em cada intermezzo, existe um pico onde as palavras não alçam vôo, e te olhar então, assim pausadamente, sem pressa e sem pensar nada, só olhar. Este vazio. Estas possibilidades que o tempo arrasta rumo ao acaso. Eu plan