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Saga

Para H. Kolody/ P. Leminski/ Nempuko Sato


As flores do café
como um mar
reflete a lua
(Nempuko Sato)

Depois dos sessenta
minha voz tranqüila
mesma voz de outono
(Mitio Suguimoto)

O café na colcha
tece no hai-kai
retalhos do coração
(Dani Estefani)

Carpa quieta ao sol
desliza n’água
ao som do tempo
(Dani Estefani)


As cores do mundo absorvem todos os que se deixam confundir com a tela. O ambiente é mais forte que qualquer vontade. O transitar caótico é a busca por respostas. O desolado homem trafega sobre perguntas. O obcecado anseia por encontros. O compreensivo teme não rebelar. O sonhador recosta-se na janela de um ônibus e dispersa, num vacilo da noite, sente vontade de não estar só. Um ruído de trem prenuncia viagem e dentro de quem ama, uma noite perfeita pode durar uma vida inteira.
No plano das ‘Afinidades Eletivas’, toda uma vida é pouca para se degustar uma só noite completa. O primoroso enólogo se abstém ao perceber que ainda tem na boca a safra passada. Deitado na relva, o jovem entrelaça as mãos na nuca. Atriz pornô russa. Gang bang. Ressentindo uma fita vermelha nos pulsos atados por dois laços numa pequena cama. Um único olhar na rua. Um pedido a deus. Uma fotografia para emoldurar a tragicomédia da vida. E o espraiar-se sobre a enormidade glútea. O gozo: a ausência como a mais absurda das mortes. Um cadáver armado perambulando por aí. O metabolismo extenuado, a aura extinta. Soma. Amanita Muscaria. Antigos vickings. Canções védicas. E o vício de buscar em verossimilhanças uma droga. Querer...
Perder, não como esquecer um guarda chuva predileto, mas como o encarcerado em sela escura que delira ao som da longínqua chuva, invejando ‘tremens’ um bueiro. Inexiste um balcão de achados e perdidos onde eu possa reclamar-te. És chave que encontrou por um desastre o acaso e os segredos de um outro cadeado, contudo, somente eu tenho a combinação exata de ti. Sou eu tua chave: copo de leite sem pedúnculo. Polinização. Diferente mas mortal. O que vejo: a biologia teoriza a filosofia não capta e toda ciência encalha e a psicanálise desvanece. É tarde demais para manter contato. E cedo demais para substituir você ou partir com os visitantes vindos das Plêiades. Então é preciso saciar o corpo com aventuras, ao menos enquanto não ecoa em teu ventre o choro. Os meus genes fervilham. E ainda somos corvos famintos em um milharal sem espigas. Queda abrupta. Mas haveis de voltar. Pois, quando o Sol da saga perfura nuvem escura, um pequeno raio se infiltra e clareia o mármore novo: as eras passam e sou tua persistente lápide vítrea, bípede, bravia e progressiva. O entretanto é o que prescindo. O que quero é o quanto, o como e o onde.

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