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A Canção dos Migrantes


A Canção dos Migrantes


1. (o estranho)


...morre hoje não, meu irmão...
escuta esta canção, 
ninguém é cidadão, meu irmão
e onde falta pão só há razão
pra desilusão...

...eu vim por estes caminhos
fugindo da fome e da morte
violência aqui é na rua
grande cidade nua e crua...

...eu sei que não posso parar
que a vida vai atropelar
quem não sabe quem é
não sabe o que quer
e ninguém é o que tem...

...batendo forte o coração
em queda livre sempre quis
ter paz pra ser feliz...

...a esperança é só um amuleto
que vem quando o medo atropela
não entregue jamais sua alma
não acenda em vão outra vela...

...é coragem pra esquecer
que pros filhos vai deixar
só o rosto esquecido de um 
estranho...




2. Onde: Mirabel


Respiro sóis se miro em Mirabel
me perco onde teus olhos são migrantes
mas não enquanto caminho cedo e ao léu
à sombra onde imagino ouvir
a vida que cantando vem
loucas canções em que
em giro intenso sigo sem faróis
sonhar é tão incerto quanto o instante
eu só queria viver com Mirabel
numa casinha onde na estante velhos
livros, fotos novas e alguns versos
em nossas bocas, nos fizessem flores
soltas colorindo todo céu...




3. (sinaleiro)

...de um bando de meninos sós
nas esquinas do país
malabares pelo ar
correria pra atingir

o sonho de se erguer do pó
enquanto os dedos buscam moedas
onde ruas e calçadas se encontram...

e se espalham pelo chão
onde este menino está
indo em tua direção
vai tentar te alcançar

então você arranca o carro
fecha os vidros, finge que não vê
ou reclama da situação

pois morreu teu coração
de tanto bater sem dó
esqueces-te a religião
que o teu Deus mandou pregar

a de querer amar o outro e dividir 
o muito ou o pouco e então deixar 
vir os meninos nos guiando pra um 
grande final...
















FIM ou FMI?

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“Embora seja este o discurso, sempre, os homens tardam, não só antes de ouví-lo, como logo que o ouviram; pois, mesmo que todas as coisas aconteçam de acordo com este discurso, mostram-se semelhantes a inexperientes ao experimentarem tais palvras e atos que eu persigo segundo a natureza, distinguindo cada coisa e mostrando como ela é. ‘Mas os homens ignoram o que fazem depois de acordarem, como esquecem o que fazem dormindo” (Heráclito) As Três Pedras I (epístola à Pátria) Foram tão bons os sonhos juntos amiga, antes que a realidade se interpusesse à nós. O futuro então traçado em rumos claros, dispendio do ardor comum: a efervecência. Pra então, se desdobraram os desastres o real rompendo em bufa ária esnobe, e com a imágem distantes destas uvas, destes maltes as Alices, e as Isoldas estão geladas o amor tecido e alinhavado, acabado. Este é o nosso tempo, amiga, as pessoas já não sonham juntas contrários os não resignados as lutas poucas os medos muitos