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Eu e Você em Hokaido I (ode telegráfica)

“As estrelas em seu percurso
combatem pelo homem justo.”
Provérbio Chinês.
for Penélope
para ouvir ao som de Kitaro
I
Garganta de Rubi Siberiano: o vôo. Sol rasteiro nascente no pescoço, o sono. A vida serpenteia. A rubra tarde em formato de gravata, canta e ilumina o olhar do filósofo alpino. A monotonia. No outono, folhagem vermelha desperta à tarde intensa. Imenso mar de nuvem sobre o cume. Musgos. Lume. Troncos, pedras: estalagens. Corvos onde repousam estrelas.
A água não vem só do céu: desce do Fugi. Sebe seca de galhos mortos. Contraponto. Cinza claro. Lago sereno. Árvore japonesa que conservo em meu quintal ocidental. Não há um nome para a neve que chega. A vida hiberna. Há uma densidade maior no olhar. Estalactites de gelo imitam arte pós-moderna.
Cimitarra de prata no céu. Dourado trono do crisântemo. Artemísia sem tempo para fecundar. Fim de tarde. No anverso horizonte rubro. O tigre se curvou ao Xógun. O grande senhor ao humilde pescador. Saciar a fome: Imprescindível precisão. A mesa dos deuses ainda não cantados em ópera. Corpos se tocam. Há dor no agudo lamento. Há orgasmo nas faces de salmões que se esfregam. Nomes de lagos no país do Sol nascente são poesia. Há risco de morte prematura. Na noite da floresta a aposta da vida. O vento varre neblina sobre as árvores. Meu lado finito se estende. Tenho fome de paixão. Não compus o meu hai-kai. Shoji iluminada. Amparo. Fu tons. Sem você não me aqueço. Incide Kitaro. Meu olfato apurado. ‘Um Cheiro de Papaia Verde’ sob ‘Lanternas Vermelhas’. Um frasco vazio que você guarda, um porque que não lembro, que não sei se... Estou doente, ainda espero. Quando lembro, turbulências me agitam. O velho barco faz água. Não afundo. Rigorosa estrada esta nossa. A saudade é magnífica. A primavera chega. Tudo se renova. Sou o Planeta Terra: tudo está em mim e assim o estará enterrado para sempre.
II
Eu: Pensei em Netuno regendo uma orquestra.
Você: ...as ondas fazem barulho...
III
Irmãos separados por sangue e fúria. A vida avançando sobre trovões famintos. Tigres encerrados na angústia. Águas escuras. Jovens rebeldes. Não precisamos de guerra. Temos o i-ching. Mas sei que o teu coração bate num campo amortalhado por cavalos: tempestade anunciada, distante, depuradora de concreto. Quadrúpedes não voam. Motivo pra tristeza. Selvagens são perfeitos. Infelizes os que domados. Já por ti, vou à parelha. Sou democrático ao fazê-lo, mas ditatorial ao senti-lo. O poder vem quando não se espera. É preciso estar preparado. ‘Praça do horror celestial’. Desconheces o mundo. Flacidez é o teu medo e estupidez o teu nome. Na frente da mão o tempo. No trabalho: o verso. Crescer mesmo que o corpo feneça: eis o mistério. Obstinação. É preciso aprendizado na empreitada. A solidão é amiga sincera, no entanto, ninguém suporta muita verdade. A natureza de nossa escansão define o pranto. Artefatos delicados ferem fundo. Rosa em arame farpado rasga o ombro. Raios extirpam cânceres, mas não a ausência. Possuir o invisível. Incansável o querer. Fidelidade de mulher bela soa consumo. Criar padrões. Tecer texturas. O toque na pele virou tortura. A carta que surge deleta o azar. A sorte para quem ama se chama usura. Fundamento da vida é o postergar. Há uma pequena província de onde viestes. Fronteira longínqua. Mas o trânsito não perdoa o que não muda. Rezo pela memória que padece. O esquecimento se funda. Fibra ótica rompe e o telégrafo... Ah! (Risos). Emudece...

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