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Para o Anacoreta


(...) “Mãos! De que me servem o teu silêncio?
(...) Em meu rosto, alternam-se tigres feridos e canoas guiadas por homens em pé”. (...)


(Fernando Paixão - Mosaico - Nicolau)




25. Para o Anacoreta
(ou um túmulo emprestado)

p/ Fernando Pessoa, Mario de Sá Carneiro e Toninho do blues

ao som de “Glory Box”do Portishead

Morres vestindo o que tinhas de melhor.
Então em negro,
Correm velhas senhoras para assegurarem-te
A decência aos panos,
Certas de que com os teus,
Não farias boa figura nem mesmo
Ao teu sinistro cadáver.
Espalho com minhas mãos um punhado
de terra...
Não te tocarão!
Vais de Casimira inglesa
Oriunda do espólio de um recém
Falecido Barão.
Ataúde barato
Num buraco emprestado
Vais, vais...
Sombrío e sem a certeza que tenho
De que vais sem flores,
E que ao menos esta noite, (como gostarias)
Enquanto em vigília prossigo,
Dou-te minha palavra
De que urubús e anjos
Não te tocarão!

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