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Ciclope Enguiçado

Ciclope Enguiçado I Senão d’ouro, de que são feitas as palavras que tremulam os lábios e te partem as mãos? Dos bolsos vazios inundam dúvidas. Nos versos mais duros a boca úmida. A cabeça pende. Idéias não secam e a mina com o seu rutilar de tolo se acalma. As mãos partidas vêm da lida. A boca trêmula da angústia. E as palavras... Ah! as palavras... Senão d’ouro são palavras; E seu valor: vale o quanto pesa cada ouvido; ou o quanto necessita cada coração silenciado por simulacros ou pelos fatos. Pois vez em quando é de ouro o silêncio, outras vezes é obstáculo. Então, no terceiro olho vicejam e se escondem as metáforas. E em cada verso com seu rosário de palavras há numa pausa que voa, uma imagem que evapora, e um fim pra tudo que ecoa. II Depois... Sim! Sim! Sim! O big-bang, Planck, um Sol um Galileu, um ensaio ante a cegueira e... ...um novo grito... Renascimento ou Enquanto Durar o Menino (...) Então como um coro, a paixão chegou mais fundo. Algum interesse maior estava em jogo, uma causa maior pela qual ninguém jamais levantou a espada ou anunciou em trombetas. (...) (Thomas De Quincey – em ‘Confissões de um Comedor de Ópio’). O sol formou um veio de ouro Tão gracioso que o meu corpo dói Acima o céu brilha num azul intenso Convicto sorri por algum engano O mundo cobre-se de flores E parece até sorrir. Quero voar Mas para onde? A que altura? Se as coisas podem florescer Por entre arames farpados Por que não eu? Por que não eu? Eu não morrerei! (Poema de 1944, escrito por um anônimo portador de Hansen) (...) “O menino Jesus adormece nos meus braços E eu levo-o ao colo para casa.(...)” (Fernando Pessoa – em “O guardador de Rebanhos”.) I O que é um ano novo senão um novo ano velho? Desses que sempre se extinguem por si em indelével curso enquanto evaporamos com eles certos de que os fogos que iluminam o meio da noite (mera herança chinesa) refletem somente a simplória distração. Tudo engrenado o relógio invisível com seu ritmo próprio o andamento: e quando agimos estamos grafando marcas que duram por toda a vida pois que os sentimentos têm imaginação fértil e a razão padece à ausência de um coração próprio. Eis que uma paixão antiga nos persegue um cachorro louco acompanha-nos nas mãos repousam delicadas fúrias em meus olhos alguém dorme em teu corpo um riacho em nossa sede: todo o tempo. II afinal, o que é um ano novo senão infindáveis meninos seguindo velozmente em frente tendo as costas infinitos velhinhos que percorrem lentamente a direção contrária? Tocam-se por uma minúscula parcela de segundo e imbuídos do mesmo espírito representam as duas faces da mais fina e delicada sentença: É certo que a vida resista e o amor perdure enquanto em olhos humanos a caridade e o amor em profusão fecundem até que toquemos com doçura as mãos do menino. Cegos a quaisquer evidências do tempo que nele ou em nós se manifestem pois no advento da última expiração Sim! No momento limítrofe da morte são eles: os meninos os pequenos e perenes mistérios que brotam de nós mesmos. III (Canção Para Ninar Clarisse) Quando te sentires só, reage e brilha por mim. No frio se faça calor e na seca me transforme em rio. Ou no lugar em que tão calma vais dormir sem dor onde teus olhos já cansados hão de refletir: O Sol do amor que se compõe. Sempre que eu olho pra ti, tem um novo cometa que cai. Paisagem além do quintal, na tarde perfeita que diz: Que da varanda eu vejo um sol vermelho e súbito, sinto em meu peito o impulso pronto de gritar: “_ Sempre haverá o amanhecer! e mesmo se lá eu não estiver, quando te sentires só, reage e brilha por mim Sim!”

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