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As Três Pedras I (epístola à Pátria)


“Embora seja este o discurso, sempre, os homens tardam,
não só antes de ouví-lo, como logo que o ouviram;
pois, mesmo que todas as coisas aconteçam de acordo
com este discurso, mostram-se semelhantes a inexperientes
ao experimentarem tais palvras e atos que eu persigo segundo a
natureza, distinguindo cada coisa e mostrando como ela é.
‘Mas os homens ignoram o que fazem depois de acordarem,
como esquecem o que fazem dormindo”
(Heráclito)



As Três Pedras I
(epístola à Pátria)

Foram tão bons os sonhos juntos
amiga,
antes que a realidade se interpusesse à nós.
O futuro então traçado em rumos claros,
dispendio do ardor comum: a efervecência.
Pra então,
se desdobraram os desastres
o real rompendo em bufa ária esnobe,
e com a imágem
distantes destas uvas, destes maltes
as Alices, e as Isoldas estão geladas
o amor tecido e alinhavado, acabado.
Este é o nosso tempo, amiga,
as pessoas já não sonham juntas
contrários os não resignados
as lutas poucas
os medos muitos
os pêssegos podres e
em meio a euforia do delta-9
poderiamos desdobrar-nos juntos
não fosse a realidade tão dura
e na vida o sucumbir do sólido.
Restam as toscas estrelas que me guiam
mesmo sobre a tempestade
afoito-louco e destemido
atento a todas tuas astúcias.
Pronto a por a espada em riste
matar a sêde em tuas aguadas rugas
travar batalhas platinas
brumada ‘Passagem do Chaco’*
Salgamos vosso o nosso charque
semeamos europeicamente o café,
e tropeiros,
te demos lustrosas manzanas
e o que queres a mais?
Antropofagia subliminar-pacífica?
Acordos falsos e vis assassínios?
Queremos guerra! Queremos guerra!
Sem maisGetúlios fedelhos em tão
pequenos tiranos. Um guapo resiste!
O terminal colapso do populismo?
Não! Ainda trocamos pau-brasil
e xocoalt por panelas, e nelas:
Nada.

* Tela de Pedro Américo – Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro


Astrolábio Quebrado I
(sob a sonoridade do cordão)

p/ Leonardo Becker

...Por que um homem morre variadas vezes...

ao som de sax de Charlie Parker: “The Bird”

“Houve um tempo quando gigantes
ainda estavam misturados aos homens
nos tempos em que ninguém falava.”
(Victor Hugo)


Dramatizamos nossas mortes algumas vezes
Mas sem nunca perdermos o fio do sopro
Erméticos em nossa solidão
de querermos que toda
Sensação transceda.

Só no igneo encontramos algum calor
As outras coisas morrem, desaparecem
E o que de eterno há no homem
por imunidade
O homem não concebe.

Resta o que não se sabe
Mas o silêncio
não se deixa tocar ou perceber
E é nos sortilégios humanos
com o transitar do tempo
Que a palavra padece
no macedônico taxi da morte
Viaja a definitiva inocência
Enquanto a vida
em seus primitivos meses
não padece à espera
e pacientemente
Se entorpece afogada em intraduzíveis
impressões
e inexprimíveis
ruídos.

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