Pular para o conteúdo principal

Três Fragmentos Sobre o Amor: os Cavalos, o Jardim e as Lembranças.


I Os Cavalos - O amor em sua frágil e fugaz composição, aceita e no entanto, não suporta a distância. Vive à memória e à sombra de um ruído interno angustiante. Sonha desencilhar-se e livre, montar o pensamento como quem cavalga a esmo, sabendo desenhar com as pontas dos cascos curados, as sobras da face delicada do ser desejado: figura de névoa e imaginação, por vezes sussurro por outras grito, areia varrida por serpente ligeira, a paixão esta jura que anuncia: 'sempre havera morte nos olhos dos amantes sinceros, dos cavalos selvagens e dos humanos quadrúpedes'.


II O Jardim - O querer em seu retorno ao jardim: neblina envolvente em manhã tardía, evaporou aos raios de um insinuante Sol. A sobreposição dos tijolos que dão forma à aurora de todos os dias, murou o coração, que lento e perturbado, finalisou sua fase turva e inquieta, permitindo-se pensar de olhos abertos e, abraçando com suaves bocejos o apagar da última estrela no fim da madrugada. Ao alvorecer: um claro mar, o som das ondas, do bojo do pássaro metálico os arquivos somem, se algum musgo preservado-desvia os olhos, desconfia da imortal sabedoria, sabe-se bípede destruidor mas quer retormar o caminho dos sonhos, da roda d'água, na mata densa, em vertigem arbórea: distante de qualquer esquisofrênica passividade, obscura forma de conquista ou equívoca destruição. O coração é um jardim que se entregue aos "cuidados" alheios... cuida do teu coração.


III. As Lembranças - O tempo em toda sua extenção, padecerá à condição de um dia: manhã, tarde e noite como uma música de fundo cinza, que repentinamente, dilacera com seu toque, imprime um ar primaveril e a felicidade surge sobre o sumiço da espera, abraçada na impermanência, quer do instante presente o supra sumo, o espírito sem hora, o pêndulo em movimento e pouca coisa não é transitória no dicionário do amor. Nesta jornada regurgitante, onde o agora, indicará a exatidão de quando ser atento ou difuso. As notícias virão e o mundo não parecerá bem. Poderás compor uma canção à surdina, astear bandeira pirata, fingir-se um corsário incauto ou mesmo esconder-se num pier vazio. Sempre elegerás um cume, e nele irás fincar tua flâmula alva, este estandarte altivo, que a alma socorreu com tintas e o corpo nâo ousou macular com sangue. Os pulsos da esperança estão intactos. Os diários bradam: os estados desde sempre destroçam os indivíduos. Nunca fomos tão medianos, tão "Crepúsculo", mornos e insensíveis. Lambo as extremidades do papel, selo a carta, tenho um princípio de delírio, admiro no frontal teu nome por minha caligrafia, giro o envelope, e depois dos dois pontos que seguem o remetente, daqui até o infinito, a ponta da esferográfica busca o papel e o que encontra, é um tombo irreversível rumo ao silêncio dos desejos que simplesmente por pura covardia, não realizamos. Pequenas delicadezas ao alcance das mãos como um simples bom dia, como vai... e aquele roçar de dedos na face dormente do ser amado... difícil, é não construir lembranças e delas um dia se alimentar: cuidado!!!





EnD.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Uma Pequena Canção de Repúdio a Demora e ao Silêncio (só mais uma ode a liberdade)

Uma Pequena Canção de Repúdio a Demora e ao Silêncio (só mais uma ode a liberdade) ... olhem, a morte descortinou-se de vez: foi no dia em que eles mataram a liberdade e nós ficamos aqui calados este nosso silêncio foi um dedo no gatilho em meio ao Sol despedaçado foram tantas as imagens que chegaram neste dia escurecido que nossos olhos estão cegos de vergonha pois restamos aqui parados nosso espírito indigente colocou-nos aqui tão vis, tão juntos e vencidos que assistimos a vida agonizando com a menina ali ao lado vendo as forças que se alimentam dos seres livres impondo um outro (e)Estado assustada neste dia, em que juntos assassinamos a liberdade momento em que nossa servidão e  morte descortinaram-se de vez... "Pois que a vida e a liberdade devem ser antes de tudo, a essência mais profunda que há dentr...

Sobre Corações Maciços (Poema Espelho)

"Se alguém chegasse à minha despretenciosa cabana, teria lhe oferecido as boas vindas com uma recepção tão suntuosa quanto um homem pobre pode oferecer." (Thomas De Quincey - em 'Confissões de um Comedor de Ópio'). Sobre Corações Maciços (Poema Espelho) Para Thiago Jugler &Isabela Socrepa, Iko Vedovelli & Evelim ...construir pedaço a pedaço num coração em cores e tijolos vermelhos incandescentes brilhantes brilhantes incandescentes vermelhos tijolos em cores num coração pedaço a pedaço construir...

No Visions of Cody

No Visions of Cody p/  Jack London, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Hal Chase, Neal Cassidy, Timothy Leary, Ken Kesey, Thomas De Quincey e etc. (…) “desaparecer não é para qualquer um, só você, misto de mistério e dúvida pode estar em lugar nenhum e ainda me tocar por música.” (Marcos Prado – em ‘Begônias Silvestres’) I Feito em pedaços variados, ombros curvados e passos amolecidos, sob a sombra de um puído chapéu, andar isolado, enfebrecido e amargamente hipnotizado pela noite.  Nos olhos fundos. Na dor da alma: a tez marcada, a sola gasta, os pés molhados e o pisar em pedras carecendo de um arquitetado rumo. Quem mora dentro da tempestade? O cheiro de cedros e eucaliptos? Raios colossais já não despencam em matas virgens. À noite emparedada no horizonte ruge. É sempre bom caminhar em direção à chuva. E dentro de alguém que não esteja louco: há muita conversa. Por vezes ventos dentro da gente. Não é mister precisar pra onde levam, mas é sempre mais atrat...